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Escritores da Liberdade


O roteiro do filme expõe de forma alarmante a estrutura educacional e social que suscita desigualdades e injustiças. A situação fica clara quando o sistema separa os discentes inteligentes dos considerados como problemáticos, sem analisar o verdadeiro potencial dos alunos.

Por trás desta ação observam-se pontos conflitantes como diferenças nas classes sociais, racismo, desemprego, desestrutura familiar, intolerância, políticas públicas sem uma função de fato, exclusão social, etc.

Uma professora do segundo ano que leciona para uma turma de alunos chamados “especiais” percebe que a maioria sofreu algum tipo de perda com parentes e amigos, mortos por causa do tráfico de drogas. Embora eles estivessem frequentando as aulas como parte de um programa de reabilitação, o próprio sistema educacional não acreditava que chegariam a algum lugar.

Para mudar essa realidade a professora G resolve enfrentar o “sistema” colocando em prática um novo método de ensino. A primeira iniciativa era rever o currículo apresentando novas opções de leituras. Sem apoio de recursos financeiros da diretoria, a professora arcou com as despesas e para isso teve que arranjar dois novos trabalhos, o que acabou prejudicando seu casamento.

O interessante do relato está no fato da professora G dar aos seus alunos como opção de leitura o Diário de Anne Frank, uma adolescente judia que após viver escondida num sobrado por dois anos, vai para um Campo de Concentração no período da Segunda Guerra Mundial.

Anne Frank usou seu diário para descrever suas impressões sobre aquela situação e expôs sua visão a respeito dos demais moradores do Anexo Secreto. Além de seus sonhos de jovem determinada e inteligente, naquele cotidiano marcado pelo isolamento e o medo constante, registrou os inúmeros momentos de preocupação e as poucas oportunidades de alegria. O Diário foi publicado no ano 1947 e tornou-se uma leitura obrigatória em todo o mundo.

No desenrolar da trama, a professora G observa que a leitura do diário trouxe profundas mudanças em seus alunos. Eles estavam prontos para ter o seu próprio diário em que pudessem escrever tudo o que sentiam e desejavam, seus medos, frustrações e anseios.

Como parte do programa de ensino, ela leva seus alunos ao museu do Holocausto e ali, em contato com inúmeras histórias de vidas que se perderam naquele período, cada aluno sente dentro de si, o desejo de mudar o rumo de sua história.

Ao descobrirem que Miep Gies, a senhora que escondeu a família Frank por todo aquele tempo, ainda estava viva, começaram uma maratona para fazer com que ela recebesse suas histórias e se possível, viesse até aquela cidade para uma conferência escolar.

Após aquele grande dia as histórias dos Escritores da Liberdade foram para a internet em forma de livros e assim, depois de lutarem e vencerem seus próprios medos e o preconceito, ao fim de longos anos de estudos, todos eles se formaram numa universidade. Tudo porque alguém ousou desafiar o destino.

Embora haja uma polêmica sobre a autenticidade do Diário de Anne Frank, a menina enfrentou mesmo todos aqueles dilemas característicos da sua idade e com um agravante: estava marcada para morrer num campo de concentração.

O que me chamou a atenção no filme foi o fato do Diário de Anne Frank ser o livro que a professora G usou para reestruturar emocionalmente seus alunos. Assim todo o contexto histórico e social do Holocausto, que dizimou seis milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial, foi o instrumento utilizado para salvar a vida e mudar o destino daqueles jovens.

E neste momento sou obrigada a refletir se o tipo de texto que estamos expondo mostra a realidade que nos cerca e qual a repercussão que terá no futuro.



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